
Retirando o véu da negação: corpo negro e mercadoria
[Español abajo] Priscila Rezende é uma artista visual e performer, nascida na região sudeste do Brasil na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais (1985). Formada em Artes Plásticas com habilitação em Fotografia e Cerâmica pela Escola Guignard. Em sua pesquisa poética Priscila investiga já há alguns anos a presença do sujeito negro na sociedade brasileira bem como seu processo histórico de inserção. A artista mineira, a partir de gestos e diálogos silenciosos, desenvolve ações utilizando-se da linguagem da performance. Estreitando a distância da arte com o público leigo — em relação a negação e perpetuação de um projeto político de modernidade escravocrata ainda existente nos dias atuais. A artista comenta em diversas entrevistas sobre a relação de suas vivências localizada em um corpo categorizado como negro e como mulher, e como isso se torna o mote de suas investigações no campo da arte. Tendo em sua própria trajetória de vida a problemática e o paradigma de elaborar um denso e visceral trabalho de leitura de si e do mundo, desmembra alguns dos processos históricos brasileiros. A fim de proporcionar insights de forma direta e nítida sobre discussões acerca de questões interseccionais ancoradas – sobretudo – em problemáticas raciais, de gênero e das identidades no tempo presente, um tempo ainda colonial.
Meu corpo tem sido meu principal objeto e mídia para criar e expressar perguntas, dúvidas, minha visão sobre o mundo em que vivemos e, especialmente, minha condição específica à frente deste mundo. Vejo o meu trabalho como uma arma de luta contra situações de discriminação, para trazer reflexões e dar voz a algumas discussões que ainda não estão resolvidas na nossa sociedade.[1]
O Brasil é um território central quando falamos da longa e dolorosa história da diáspora negra no mundo, e por consequência das navegações afro-atlânticas.[2] Pois recebeu aproximadamente 46% dos cerca de 11 milhões de africanos e africanas que desembarcaram compulsoriamente neste continente, ao longo de mais de 300 anos. Também foi o último país a abolir a escravidão mercantil com a Lei Áurea de 1888, que perversamente não previu um projeto de integração social, perpetuando até hoje desigualdades econômicas, políticas e raciais. Achillle Mbembe nos alerta do nascimento do capitalismo alinhado ao período das navegações, desembocando no que o filósofo chama de modernidade atlântica. Ou seja, o período em que o negro se torna mercadoria e uma espécie de moeda de troca. O que chamamos hoje de capitalismo se inicia no momento que o delírio ariano com suas ficções narcísicas cria o que conhecemos como o “negro”. Desse momento em diante todos enquadrados nessas categorias são reduzidos a “coisa” e mercadoria. O negro se torna a primeira e principal fonte de recursos monetários para o projeto de modernização do mundo: a colonização. Tendo em vista os norteadores raciais, a artista aciona em suas performances problemáticas que questionam sobre as fronteiras e os limites da discriminação, refletidos nos estereótipos aos quais o sujeito negro foi submetido. Ela confronta esses limites através de ações viscerais com seu próprio corpo, enquanto ao mesmo tempo busca estabelecer junto ao público posições políticas.Mi cuerpo ha sido mi principal objeto y medio para crear y expresar preguntas, dudas, mi visión sobre el mundo en el que vivimos y, especialmente, mi condición específica frente a este mundo. Veo mi trabajo como un arma para luchar contra las situaciones de discriminación, para aportar reflexiones y dar voz a algunos debates que aún no están resueltos en nuestra sociedad.[1]
Brasil es un territorio central cuando se habla de la larga y dolorosa historia de la diáspora negra en el mundo y, en consecuencia, de las navegaciones afroatlánticas[2], ya que recibió aproximadamente 46% de les casi 11 millones de africanes que desembarcaron por la fuerza en este lado del Atlántico a lo largo de más de 300 años. También fue el último país en abolir la esclavitud mercantil con la Ley Áurea de 1888, que perversamente no previó un proyecto de integración social, perpetuando las desigualdades económicas, políticas y raciales hasta nuestros días.Retirando o véu da negação: corpo negro e mercadoria
Meu corpo tem sido meu principal objeto e mídia para criar e expressar perguntas, dúvidas, minha visão sobre o mundo em que vivemos e, especialmente, minha condição específica à frente deste mundo. Vejo o meu trabalho como uma arma de luta contra situações de discriminação, para trazer reflexões e dar voz a algumas discussões que ainda não estão resolvidas na nossa sociedade.[1]
O Brasil é um território central quando falamos da longa e dolorosa história da diáspora negra no mundo, e por consequência das navegações afro-atlânticas.[2] Pois recebeu aproximadamente 46% dos cerca de 11 milhões de africanos e africanas que desembarcaram compulsoriamente neste continente, ao longo de mais de 300 anos. Também foi o último país a abolir a escravidão mercantil com a Lei Áurea de 1888, que perversamente não previu um projeto de integração social, perpetuando até hoje desigualdades econômicas, políticas e raciais. Achillle Mbembe nos alerta do nascimento do capitalismo alinhado ao período das navegações, desembocando no que o filósofo chama de modernidade atlântica. Ou seja, o período em que o negro se torna mercadoria e uma espécie de moeda de troca. O que chamamos hoje de capitalismo se inicia no momento que o delírio ariano com suas ficções narcísicas cria o que conhecemos como o “negro”. Desse momento em diante todos enquadrados nessas categorias são reduzidos a “coisa” e mercadoria. O negro se torna a primeira e principal fonte de recursos monetários para o projeto de modernização do mundo: a colonização. Tendo em vista os norteadores raciais, a artista aciona em suas performances problemáticas que questionam sobre as fronteiras e os limites da discriminação, refletidos nos estereótipos aos quais o sujeito negro foi submetido. Ela confronta esses limites através de ações viscerais com seu próprio corpo, enquanto ao mesmo tempo busca estabelecer junto ao público posições políticas.Mi cuerpo ha sido mi principal objeto y medio para crear y expresar preguntas, dudas, mi visión sobre el mundo en el que vivimos y, especialmente, mi condición específica frente a este mundo. Veo mi trabajo como un arma para luchar contra las situaciones de discriminación, para aportar reflexiones y dar voz a algunos debates que aún no están resueltos en nuestra sociedad.[1]
Brasil es un territorio central cuando se habla de la larga y dolorosa historia de la diáspora negra en el mundo y, en consecuencia, de las navegaciones afroatlánticas[2], ya que recibió aproximadamente 46% de les casi 11 millones de africanes que desembarcaron por la fuerza en este lado del Atlántico a lo largo de más de 300 años. También fue el último país en abolir la esclavitud mercantil con la Ley Áurea de 1888, que perversamente no previó un proyecto de integración social, perpetuando las desigualdades económicas, políticas y raciales hasta nuestros días.Pie de foto para Imagen 2
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